O PAPEL DE MANEJO DE FAUNA

Andrei Klohs

Autor

Muito se fala sobre proteger a biodiversidade, mas pouco se conhece sobre o que acontece nos bastidores desse cuidado. O manejo de fauna é justamente esse conjunto de ações técnicas, estratégicas e contínuas que permite que humanos e animais silvestres coexistam de forma mais harmônica — ou, ao menos, que não entrem em conflito direto. Em tempos de crescente urbanização e perda de habitat, essa prática se torna cada vez mais necessária.

Por meio do manejo, é possível identificar quais espécies estão presentes em uma determinada área, como elas se comportam, se estão em risco de extinção, se há ameaças como atropelamentos, competição com espécies invasoras, transmissão de doenças ou desequilíbrio ecológico. Esses dados são fundamentais para tomar decisões seguras e embasadas, que visem tanto à proteção da fauna quanto à segurança das pessoas.

Mais do que apenas reagir a problemas, o manejo permite agir de forma preventiva. Ele orienta o que pode ou deve ser feito para evitar impactos maiores antes que eles ocorram. E esse trabalho não se limita a um momento específico: ele começa antes de qualquer intervenção humana no ambiente e se estende por todas as fases de um empreendimento ou processo de ocupação territorial. Isso inclui o levantamento de fauna, ações de resgate e afugentamento, monitoramentos de médio e longo prazo, reabilitação de animais e até estratégias de conservação, como a reintrodução de espécies desaparecidas de certas regiões.

 

ONDE O MANEJO É FUNDAMENTAL

O manejo de fauna é uma ferramenta indispensável em diversas situações que envolvem a relação entre sociedade e natureza:

  • Antes da instalação de empreendimentos como rodovias, barragens, loteamentos, linhas de transmissão ou parques eólicos, o manejo serve para avaliar os impactos potenciais sobre a fauna local. A partir dessa análise, são propostas ações de resgate de animais, afugentamento controlado, monitoramentos sistemáticos e medidas compensatórias ou conservacionistas.
  • Em áreas urbanizadas ou em processo de urbanização, onde animais silvestres podem entrar em contato com a população, seja por perda de habitat, pela busca por alimento ou por deslocamentos naturais. Nesses casos, o manejo permite intervenções seguras, técnicas e legais, evitando o pânico, o sofrimento animal e o risco de acidentes ou zoonoses.
  • No controle de espécies exóticas invasoras, como os javalis ou até mesmo cães e gatos abandonados em áreas naturais, que competem com a fauna nativa e comprometem o equilíbrio ecológico. O manejo identifica essas ameaças, define estratégias de controle e evita a propagação descontrolada dessas espécies.
  • Na conservação ativa da biodiversidade, por meio da translocação, reabilitação e reintrodução de espécies que desapareceram de determinados territórios. Com o suporte técnico adequado, é possível restabelecer populações viáveis e restaurar o funcionamento de ecossistemas inteiros.

 

O QUE ACONTECE QUANDO O MANEJO FALHA?

A ausência de manejo ou a realização inadequada dessas ações pode gerar uma série de impactos negativos, muitos deles silenciosos e cumulativos:

  • Atropelamentos recorrentes de animais em estradas, o que não apenas compromete a fauna, mas também representa risco à vida humana.
  • A expansão descontrolada de espécies invasoras, dificultando a regeneração natural dos ambientes e colocando em risco a fauna nativa.
  • Aumento no risco de zoonoses, ou seja, doenças transmitidas entre animais e humanos, como a raiva, a febre maculosa e outras enfermidades emergentes.
  • Crescimento do número de animais silvestres sendo mantidos irregularmente como “pets”, em ambientes inadequados, muitas vezes em condições de maus-tratos.
  • Perda silenciosa de biodiversidade, que embora invisível no dia a dia, compromete o equilíbrio ecológico, a qualidade dos serviços ambientais e a resiliência dos territórios diante das mudanças climáticas.

 

COMPROMISSO AMBIENTAL, ÉTICO E AMBIENTAL

Em um cenário onde natureza e cidade se encontram cada vez mais, seja por expansão urbana, mudanças climáticas ou degradação ambiental, o manejo de fauna deixou de ser uma escolha e passou a ser uma exigência ética, ambiental e legal. Ele garante que nossas ações, como sociedade, sejam responsáveis e compatíveis com os princípios de sustentabilidade e conservação.
Mais do que uma obrigação legal prevista em políticas públicas e licenças ambientais, o manejo é uma expressão concreta do nosso compromisso com o futuro do planeta. Proteger a fauna não é apenas preservar espécies: é garantir o funcionamento saudável dos ecossistemas e, por consequência, da própria vida humana.